terça-feira, maio 20, 2008
MARADONA.
Irá estrear em Cannes, o ultimo filme de Kusturica: "El Pibe Doro".
Para breve a estreia nacional,nao um filme de Futebol,mas um filme de um Senhor.
para mim o melhor de todos os tempos,e que jamais voltará a existir.Não pelas estatisticas,golos ou dribles,mas por ter vindo deonde veio,do que fez sonhar,do que simboliza,e da paixão.
Te quiero Maradona!
"Em qualquer momento ou local que repouse a sua existência, Diego seguirá driblando para a eternidade na minha memória como um desafio ao impossível, rompendo fronteiras no tempo, porque vê-lo jogar, como pibe com a camisola do Argentinos Juniors ou como capitão da selecção de Gardel, foi, para mim, um agnóstico que gosta e respira futebol, a única prova de que Deus existe.
Quero falar-vos de um poeta. Um poeta do futebol maravilha que transformou em terreno aquilo que nem os Deuses, na relva do Olimpo, tinham logrado sonhar.
Há quem defenda que a bola é um ser vivo, dotada de vontade própria, que só se aproxima daqueles que a sabem tratar bem, com amor e carinho. Também penso assim. Por isso, durante muito tempo, pensou-se que o tesouro do futebol estava guardado num lugar seguro, fechado a sete chaves: O corpo de Diego Maradona.
Por isso, durante aqueles dias em que ele disputou o «outro jogo», o da própria vida, longe do único local no qual se sentiu feliz, um campo de futebol, nunca consegui imaginar como seria possível dizer adeus a um Deus do futebol, pois, para além dessas mágicas quatro linhas mágicas, a vida nunca respeitou o seu talento divino.
Guardo religiosamente todos os resumos dos seus jogos e golos, do Boca ao Nápoles, entre eles um livre indirecto marcado, numa tarde de chuva, frente á Juventus, com um chapéu á entrada da pequena área fazendo a bola sobrevoar, como um pássaro, toda a equipa bianconera, até ao angulo superior da baliza de Tacconi. Um poema em forma de futebol.
Em qualquer momento ou local que repouse a sua existência, Diego seguirá driblando para a eternidade na minha memória como um desafio ao impossível, rompendo fronteiras no tempo, porque vê-lo jogar, como pibe com a camisola do Argentinos Juniors ou como capitão da selecção de Gardel, foi, para mim, um agnóstico que gosta e respira futebol, a única prova de que Deus existe.
A última reserva de um fútbol poético que se nos escapou das mãos como areia fina por entre os dedos.
Apesar de ter começado no Argentinos Juniors, seria na Bombonera que o mais famoso jogador argentino de todos os tempos iria pela primeira vez assombrar o mundo com a sua magia. Maradona ingressou no Boca, no inicio de 1981, numa altura em que, ainda no defeso – não esquecer que a época oficial sul americana corresponde ao nosso ano civil- era pretendido pelo River Plate e Barcelona. O presidente do Boca, Martin Noel seria, porém, mais astuto e por cerca 900 mil contos, contrataria «El Pibe de ouro», nesse tempo com apenas 20 anos. Com ele, o Boca venceu o campeonato de 1981, com 17 golos de Maradona em 28 jogos. Foram tempos inesquecíveis.
Quando em 1978, El Flaco Menotti se aproximou dele e disse-lhe, num misto de autoridade paternal e razão indecifrável, que tinha decido não o convocar, o pibe Diego Armando Maradona teve vontade de o matar. Como podia estar-lhe a destruir aquele sonho?
Durante meses só se conseguia imaginar na cancha do Monumental, com 100 mil hinchas fanáticos gritando pela Argentina e ele, com 17 anos mal feitos, a fazer bailar as redes. O sonho começara pouco antes quando ouvira Menotti falar dele com grande admiração e enormes elogios num programa de rádio.
Estava a pensar nele para o Mundial 78, dissera então.
Nessa tarde, conta Maradona, realizou um dos melhores treinos da sua vida, porque como ele confessa no seu livro Eu sou El Diego: “para mim, Menotti era... Deus!”.
Dias depois era chamado para jogar um jogo particular com a Hungria. Foi a sua estreia na selecção principal argentina. Começou sentado no banco e temia não jogar. Logo no inicio a Argentina marcou um golo e logo o pelusa pensou: “Isto vai ser uma goleada. Assim que vou jogar!” Vinte minutos depois, Menotti virava-se diria as palavras mágicas: “Maradona! Maradona!”. Mal entrou no relvado, Diego recebeu um passe do líbero Gallego. Era uma prova de confiança. De pronto, faz um passe magistral, isola Housseman e sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo todo. Na bancada o seu pai e sua mãe Totta, mais os pequenos irmãos, assistiam de coração apertado.
Depois dessa noite inesquecivel, nunca pensaria que Menotti não o chamasse para jogar o Mundial. Na hora da sentença, que também tocou o mago Bichini, explicou-lhe que era melhor esperar um pouco, no futuro ia ter muitos Mundiais, pelo que decidira deixá-lo de fora dos escolhidos para o grande torneio. No passado, porém, existia o exemplo divino de Pelé campeão do mundo com 17 anos, em 1958. Maradona não conseguia deixar de pensar nisso.
Neste contexto, quando Menotti, um ano depois de se sagrar campeão do mundo sénior com o onze de Kempes e Passarela, surgiu no Japão, em 1979, para disputar o Mundial de juniores com uma selecção júnior liderada por Maradona e Ramon Diaz, ambos com 19 anos, muitos entenderam que, mais do que uma prova juvenil, este torneio era antes uma sublime montra de estrelas em potência.
Dessa fantástica selecção gaúcha sairiam cinco jogadores que no futuro jogariam um Mundial com o onze principal: Barbas, Calderon, Simon, Ramon Diaz e, claro, Maradona.
Na hora da chegada ao México, um facto na altura pouco significativo acabou, no futuro, por tornar-se no segredo do muito que se iria suceder no mês seguinte. Desembarcavam figuras como Platini e Rumenigge e ambos diziam que não se consideravam favoritos. Ora porque não estava em bom momento de forma, ora porque vinham arrastando uma lesão, etc. Q
uando chegou Maradona, tudo foi diferente: “Estou aqui para ganhar e para provar que sou o melhor jogador do mundo”.
Era uma selecção argentina que muitos analistas rotulariam inclusive de vulgar, só que dentro dele estava um homem capaz de sozinho ganhar qualquer jogo: Maradona. Há quem acredite que se nesse Mundial, Maradona tivesse jogado pela Coreia, os coreanos também tinha sido campeões do mundo.
Quando, na relva do Azteca, viram Maradona saltar como um coelho voador frente ao guarda redes inglês Shilton e, com a mão de Deus, passar-lhe a bola por cima da cabaça, pela mente de muitos argentinos cruzaram-se outras memórias. Quando, pouco depois, o mesmo Diego Deus Maradona, driblou meia Inglatera e diante de Shilton, fintou-o com o corpo, tocando a bola para a sua direita, onde depois, com o seu mágico pé esquedo, chutou para as redes vazias, fazendo aquilo que o seu irmão Turco de sete anos lhe dissera para fazer pouco antes na pampa quando o vira falhar um golo na mesma situação, todos imaginaram como se estariam a sentir as tropas britânicas no vento gelado das Malvinas, nas ruas desertas de Por Stanley, ao ver como um pequeno argentino nascido na mais profunda pobreza, lhes estava a roubar, lá longe, na terra dos sombreros, os festejos do quarto aniversário da reconquista das Falklands.
Conta-se que numa humlde habitação argentina Don Salvatore, o célebre pianista de Colón, das memórias de Osvaldo Soriano, um dos milhões de argentinos sofredores, velho discipulo de Zapata, caiu da cadeira quando viu aquela segunda proeza de Maradona e pediu a todos que não o levantassem até ao dia de se jogar a final.
“Ás vezes, passado este tempo, sinto que o segundo golo me deu muito mais gozo.”, recorda hoje Maradona.
Depois de fazer o mesmo, na meia final, aos pobres belgas, derotados com outros dois maravilhosos goloes do pelusa, a Argentina estava, definitivamente, no caminho da glória ao ritmo de Maradona.
Na hora do regresso, todos foram recebidos numa atmosfera de verdadeira loucura. Quando por fim chegou ao jardim de Totta, a sua mãe que durante o Mundial lhe telefonava a perguntar: “Mas o que é tu comes, pibe? Corres mais do que nunca!”, Maradona sentiu-se outra vez Diego.
Durante os dias e as noites seguintes, a sua casa permaneceu rodeada de uma multidão que gritava o seu nome em delirio. Iam e vinham, todos os dias e todas as noites. Dois míudos, porém, destacavam-se dos outros. Estavam lá desde o primeiro dia, recorda Maradona em “Eu sou El Diego!”.
Até que uma noite, com pena, chamou-os para entrar e durante algum tempo trocou alguns passes, jogou futebol com eles na sala perante o olhar incrédulo de toda a família.
O italiano Bagni que compartiu com Maradona, os melhores anos da vida do Nápoles, conta que muitas vezes lhe intrigava o facto de, acabado o treino, e enquanto todos recolhiam ao balneário bebendo água esgotados, o argentino de ouro ficava para trás e, uma a uma, recolhia as bolas espalhadas pelos quatro cantos do relvado, levando-as, ora com pequenos toques sem a deixar cair, ora acariciando-a e dando-lhe beijinhos, ora brincando com ela, até ao saco que as iria abrigar até á sessão seguinte.
Um ritual de arte que intrigava Bagni, até que, o fim de alguns dias, perguntou-lhe porque o fazia. É só porque gosto de estar só com elas, tratá-las com carinho, falar-lhes ao ouvido para que no dia do jogo me obedeçam, amo-as tanto que todo o tempo do mundo com elas seria pouco para mim, explicou o pelusa, enquanto a seu lado passava um ragazzo e um cão usando duas perucas de Maradona.
Histórias de Encantar
“Em 85, na Colômbia, atiraram-lhe um laranja quando se preparava para marcar um canto e ele viu-a ainda no ar. Quando caía, amorteçeu-a com o pé, fazendo um movimento com o calcanhar, “tobillo”, que a permitiu de ficar colada á sua bota, sem se desfazer. Então começou a dar-lhe toques curtos e rápidos, sem a deixar caír, tic, tic, tic. De repente, levantou-a meio metro, deu a volta, de costas para o público, e pegou uma bicicleta na laranja que a devolveu mais ou menos ao sitio de onde tinha vindo, mas agora já desfeita. Isso vi eu, não me contaram!”.
Jorge Valdano, in Sueños de Futbol
Como definir Maradona? Era Deus jogando futebol. Uma vez quando estava em Barcelona, já aborrecido por estar numa recepção, encafuado dentro de um grande salão cheio de objectos valiosos, entre eles muitos objectos de ouro, descobriu uma bola e resolveu, ali mesmo, começar a dar-lhe toques. Brinca e diz que a vai meter num cesto que está lá do outro lado do salão, em cima de um pequeno móvel.
Levanta-a e remata na sua direcção. A bola passeia pela sala, passa ao lado, sempre muito perto, das peças de ouro e prata, estatuetas douradas, vasos da dinastia Ming, e, no meio de um conter de respiração geral, enfia-se, obediente, no cesto colocado no outro extremo.
Existe a obra divina e existe a obra humana. Existe a obra perfeita e existe a obra imperfeita. Neste cenário perfeito, o futebol de Maradona, terá sido uma obra divina ou um feito meramente terreno?"
Todo este texto foi integralmente copiado do site http://www.planetadofutebol.com/
escrito por Luis Freitas Lobo, um dos maiores estudiosos de futebol do nosso país.Não dos chatos,mas dos que têm a paixão como eu.
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