By Expresso.pt
Primeiro foi Zidane e o 'retrato do século XXI' que dele fizeram Douglas Gordon e Philippe Parreno. De seguida veio Maradona, filmado por Kusturica num documentário que também chegou às salas portuguesas. Desta vez, a passadeira vermelha abriu-se a Eric Cantona, que é hoje produtor de cinema, fotógrafo e letrista de canções pop. O polémico ex-futebolista francês que marcou a história do Manchester United dos anos 1990, o mesmo que manchou a carreira de glória quando um dia agrediu um espectador com uma 'patada à Bruce Lee', é o herói de "Looking for Eric".
No novo filme de Ken Loach, os Eric são dois. O primeiro que vemos, Eric Bishop, é um empregado dos correios de Manchester com a vida em sarilhos. Não tem controlo nos filhos, não esqueceu a mulher de quem se divorciou e acabou de se espetar com o carro. O acidente não causou grandes danos, mas ele está com a vida do avesso. O seu único refúgio? Um poster de Eric Cantona que o homem tem no quarto. Bishop olha para Cantona como se estivesse no altar até que um dia, num golpe de magia, o seu herói entra-lhe em casa. Tudo o que está em causa é a conquista do amor próprio. Ken Loach encontra neste milagre de comédia uma base de apoio que agradou a Cannes. E lá arranja maneira de transformar os dois Eric em confidentes, apesar de toda aquela encenação estar constantemente a tombar no ridículo.
Quando Cantona toca trompete (e que mal ele toca!...), entramos no terreno do 'oh tempo, volta para trás.' O futebolista é literalmente um fantasma, ou melhor, o anjo da guarda do carteiro Bishop. Este já não põe os pés em Old Trafford desde que o ídolo pendurou as chuteiras. Vão ambos evocar o passado, sobretudo graças às imagens de arquivo dos jogos em que Cantona, que nessa época apadrinhava 'novatos' como Giggs e Beckham, marcava golos extraordinários. Mais: o futebolista, que ainda mantém o seu ar de estrela amuada e sisuda, aceita a paródia e não hesita em gozar com a sua própria imagem. Às tantas, Bishop pergunta-lhe como é que ele se sente hoje como homem. Eric corrige: "Eu não sou um homem, eu sou Cantona." Está tudo dito sobre um filme saudosista que chegou à Croisette com um sorriso.
Sem comentários:
Enviar um comentário