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"Inas, dois anos; Heba, oito; Rama, cinco; Nizar, seis; Taha, 11 meses; Mohammad, 18 meses. Foram todos mortos. Porquê?" Seis crianças, todas da mesma família. Morreram num ataque com bombas de fragmentação numa área residencial de Alepo, a segunda maior cidade da Síria, há apenas duas semanas.
A lista continua. Com nomes e idades, para custar mais a digerir: "As minhas filhas, Isra", Amani e Aya, de quatro, seis e 11 anos; o meu marido; a minha mãe; a minha irmã Nour, de 14 anos; e os três filhos da minha outra irmã, Ahmad, Abdallah e Mohammad, de 18 meses, de três anos e de quatro anos. Todos mortos. O que me resta nesta vida?", pergunta Sabah, 31 anos, a funcionários da Amnistia Internacional, que ouvem outras histórias como esta todos os dias. Muitas histórias como esta, todos os dias.
A história maior começou há dois anos, no dia 15 de Março de 2011, com manifestações contra o regime de Bashar al-Assad, estilhaços da Primavera Árabe que eclodira no ano anterior na Tunísia. Desde então, o número de civis sírios que foram mortos ou obrigados a procurar refúgio em países vizinhos tem impressionado até os mais experientes responsáveis das Nações Unidas, como o brasileiro Paulo Pinheiro, presidente da comissão de inquérito sobre a Síria. "Se os actores nacionais, regionais e internacionais não conseguirem encontrar uma solução para o conflito e pôr fim à agonia de milhões de civis, o resultado será a destruição política, económica e social da Síria e da sua sociedade, com implicações devastadoras para a região e para o mundo", afirmou Paulo Pinheiro no início da semana, na apresentação do mais recente relatório sobra a situação no país.
Dezenas de milhares mortos e mais de um milhão de refugiados. Mais de 5000 morrem por semana. E são apenas as contas que se podem fazer. Muitos outros nomes não chegam a entrar em nenhuma das listas oficiais, como em qualquer outra guerra.
Para além destes invisíveis, há outras vítimas que não entram nestas listas, mas que têm nome. E idade. Fazem parte da "geração perdida da Síria", como lhe chama a Unicef, num relatório divulgado também esta semana. Têm a infância "debaixo de fogo", segundo as palavras da organização não governamental Save the Children.
"As crianças da Síria estão a ser mortas e mutiladas num número cada vez maior, em bombardeamentos realizados por forças governamentais. Muitas delas viram os seus pais, os seus irmãos e os seus vizinhos a serem feitos em pedaços. Estão a crescer expostas a horrores inimagináveis", alerta Ann Harrison, vice-directora do Programa para o Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional.
São crianças como Yasmine, de 12 anos, cujo testemunho pode ser lido no relatório Infância debaixo de Fogo - O Impacto de Dois Anos de Guerra na Síria, da organização Save the Children. "Éramos 13 num único quarto. Não saímos do quarto durante duas semanas. Havia muito barulho. Então o meu pai saiu. Vi o meu pai a sair e vi-o a ser morto à porta de casa. Desatei a chorar, estava tão triste. Tínhamos uma vida normal, tínhamos comida suficiente. Agora, dependemos de outros. Toda a minha vida mudou nesse dia." São crianças como Nidal, de seis anos. "Uma vez, fomos perseguidos por homens armados. Dispararam e os tiros bateram no chão, perto do meu pé, e eu saltei. (...) Depois chegámos a uma parede e não conseguimos continuar a correr."
No seu mais recente relatório, a Aministia Internacional salienta que "as forças governamentais continuam a bombardear civis indiscriminadamente, muitas vezes com armas banidas internacionalmente", mas deixa outro alerta, partilhado pela comissão de inquérito da ONU. No terreno, é evidente "o aumento galopante de abusos cometidos por grupos armados da oposição". Ou, como descreve Paulo Pinheiro, a violência na Síria "atingiu novos níveis de destruição" e ambos os lados mostram-se "cada vez mais imprudentes" em relação aos civis.
O impasse no Conselho de Segurança chega aos ouvidos de Ara, mãe de três crianças, a última das quais nascida em casa devido à destruição de hospitais e centros de saúde um pouco por toda a Síria. Falou com os colaboradores da organização Save the Children já fora do seu país, de onde fugiu apenas com o recém-nascido - "Tenho mais filhos, quem me dera ter conseguido trazê-los. Mas não consegui e eles tiveram de fugir sozinhos."
A pergunta de Ara tenta passar por cima de todos os números e de todas as listas oficiais, mas ainda não chegou aos ouvidos do Conselho de Segurança: "As crianças que ainda estão na Síria estão a morrer. Parece que ninguém está a ajudar, nada está a mudar. Por que não as ajudam?"
A história maior começou há dois anos, no dia 15 de Março de 2011, com manifestações contra o regime de Bashar al-Assad, estilhaços da Primavera Árabe que eclodira no ano anterior na Tunísia. Desde então, o número de civis sírios que foram mortos ou obrigados a procurar refúgio em países vizinhos tem impressionado até os mais experientes responsáveis das Nações Unidas, como o brasileiro Paulo Pinheiro, presidente da comissão de inquérito sobre a Síria. "Se os actores nacionais, regionais e internacionais não conseguirem encontrar uma solução para o conflito e pôr fim à agonia de milhões de civis, o resultado será a destruição política, económica e social da Síria e da sua sociedade, com implicações devastadoras para a região e para o mundo", afirmou Paulo Pinheiro no início da semana, na apresentação do mais recente relatório sobra a situação no país.
Dezenas de milhares mortos e mais de um milhão de refugiados. Mais de 5000 morrem por semana. E são apenas as contas que se podem fazer. Muitos outros nomes não chegam a entrar em nenhuma das listas oficiais, como em qualquer outra guerra.
Para além destes invisíveis, há outras vítimas que não entram nestas listas, mas que têm nome. E idade. Fazem parte da "geração perdida da Síria", como lhe chama a Unicef, num relatório divulgado também esta semana. Têm a infância "debaixo de fogo", segundo as palavras da organização não governamental Save the Children.
"As crianças da Síria estão a ser mortas e mutiladas num número cada vez maior, em bombardeamentos realizados por forças governamentais. Muitas delas viram os seus pais, os seus irmãos e os seus vizinhos a serem feitos em pedaços. Estão a crescer expostas a horrores inimagináveis", alerta Ann Harrison, vice-directora do Programa para o Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional.
São crianças como Yasmine, de 12 anos, cujo testemunho pode ser lido no relatório Infância debaixo de Fogo - O Impacto de Dois Anos de Guerra na Síria, da organização Save the Children. "Éramos 13 num único quarto. Não saímos do quarto durante duas semanas. Havia muito barulho. Então o meu pai saiu. Vi o meu pai a sair e vi-o a ser morto à porta de casa. Desatei a chorar, estava tão triste. Tínhamos uma vida normal, tínhamos comida suficiente. Agora, dependemos de outros. Toda a minha vida mudou nesse dia." São crianças como Nidal, de seis anos. "Uma vez, fomos perseguidos por homens armados. Dispararam e os tiros bateram no chão, perto do meu pé, e eu saltei. (...) Depois chegámos a uma parede e não conseguimos continuar a correr."
No seu mais recente relatório, a Aministia Internacional salienta que "as forças governamentais continuam a bombardear civis indiscriminadamente, muitas vezes com armas banidas internacionalmente", mas deixa outro alerta, partilhado pela comissão de inquérito da ONU. No terreno, é evidente "o aumento galopante de abusos cometidos por grupos armados da oposição". Ou, como descreve Paulo Pinheiro, a violência na Síria "atingiu novos níveis de destruição" e ambos os lados mostram-se "cada vez mais imprudentes" em relação aos civis.
O impasse no Conselho de Segurança chega aos ouvidos de Ara, mãe de três crianças, a última das quais nascida em casa devido à destruição de hospitais e centros de saúde um pouco por toda a Síria. Falou com os colaboradores da organização Save the Children já fora do seu país, de onde fugiu apenas com o recém-nascido - "Tenho mais filhos, quem me dera ter conseguido trazê-los. Mas não consegui e eles tiveram de fugir sozinhos."
A pergunta de Ara tenta passar por cima de todos os números e de todas as listas oficiais, mas ainda não chegou aos ouvidos do Conselho de Segurança: "As crianças que ainda estão na Síria estão a morrer. Parece que ninguém está a ajudar, nada está a mudar. Por que não as ajudam?"
1 comentário:
Que raio de mundo este em que vivemos!
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