O Meu Maior Medo
O amor em todo o
coração e em toda a parte se procura.
Já anima a possibilidade de ser
encontrado e a incerteza de não passar o resto da vida sem poder amar e
sem poder ser amado. O que custa é acreditar naquilo que se tem, quando
todos os dias, ao longo de longos anos, se consegue encontrar esse amor
que se procura, na pessoa que se ama e no lugar e no tempo - aqui,
agora, daqui a bocadinho - em que mais gostamos de encontrá-lo.
Hoje a Maria João e eu fazemos doze anos de casados e a única esperança
que eu tinha - que se tornasse mais fácil acreditar na sorte que me
coube na pessoa que ela é e na cegueira de olhar uma segunda vez para
mim - acabou por ser mentira.
Há um castigo para tudo: até para a maior felicidade. É o medo não só
que tudo acabe mas que se descubra, de alguma maneira, que nunca tenha
começado. Por exemplo, se ela se apaixonasse por outra pessoa.
«Não vai durar, não pode durar, é bom de mais para durar»: é isto que
repito no êxtase da minha alegria roubada ao sol, como se o nosso amor e
a nossa vida um com o outro fossem um prazer retumbante com um fim à
vista, naturalmente aceite quando chega, como comer um gelado.
Mas dura e, quanto mais tempo dura, mais medo tenho que esteja mais
perto de acabar. Não há habituação possível a esta felicidade. Não há
conforto nenhum na passagem dos anos por este amor.
Cada vez mais, torna-se a única coisa que peço a Deus e a ela: Maria João, por favor, não me deixes nunca.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (29 Setembro 2012)
e percebe-se tão facilmente todas estas palavras.
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