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sábado, outubro 08, 2011
no entanto...
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Há quem persiga o poder, o dinheiro, ou a fama. Eu persigo a beleza. Não é uma escolha. É uma condenação. Sem beleza faleço. É um trabalho difícil, muitas vezes doloroso, cheio de reveses. Já passei dias com as mãos na garganta apavorado que ela não voltasse a visitar-me. É em vão que se tenta dizer em que consiste aquela poderosa presente ausência que oprime e agarra. Nunca está onde está, mas sempre um pouco mais longe, noutro sítio. Não são as cores, imagens, sons, nem sequer a suave pele de uma mulher que me encantam. É o que está para além disso e que isso chama. A beleza corre o permanente perigo de a qualquer momento se desfazer em nada. É, na verdade, por completo insustentável. Não se pode medir, calcular, torná-la obedientemente exacta. É impossível provar que existe. Daí a urgência, o coração a bater na boca.
A perseguição da beleza é uma corrida de obstáculos sem meta de chegada. Basta o som de uma voz para rasgar futuros. Basta uma mala fechada sobre uma cama por desfazer para abrir horizontes. Todos os cuidados são insuficientes. É um trabalho longo preenchido de mistérios. Se se procura controlar, escapa. Se se procura guardar, esvai-se entre os dedos. Tem de ser roubada com toda a rapidez e mantida no movimento que é só dela. Se se tenta parar, fixar, já não vale a pena. A beleza é a causa do espantoso medo que é perdê-la.
Não escolhi ser quem sou, este vício de que sou escravo. Já tentei ser tantos para escapar de mim e me desviar desta vida que me deram.
A beleza semeia o desejo e a desordem nas almas e nos corpos que anima.
Alimenta-se de uma liberdade particularmente virulenta. É impertinente. Não conhece regras. Vive da vida e de mais nada.
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Pedro Paixão in "O Mundo é Tudo o que Acontece"
e o irónico são as palavras surgirem á frente dos olhos num piscar de olhos.
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