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segunda-feira, junho 23, 2008

o pó.

Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.

Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.

Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.


Fernando Pessoa
..Sempre me fez pensar imenso a sensação que se tem quando se toca na terra,quando temos as mãos cheias de pó. Não sei se aconteceu mais a alguem,mas desde novo que tive essa sensação. Provavelmente será já de um filme ou outro,mas o sentir as mãos a tocar na terra,ou na areia de uma praia qualquer...o toque,o sentir a tocar na pele(a pele), é algo que sempre me fez sentir perto de algo. Assim como a Pele com a Pele,(da outra), nos dá a proximidade,o contacto,a fricção,o sentir,seja o que for mas sêntir.O tocar na terra,sentir as mãos ligadas a "isto" que temos para viver ou sobreviver é das sensações mais ambíguas que existem.É como quando estamos num jardim com relva,o passar a mão..é bom, mas porquê?!.. sentido teluricos á Torga?!a ligação ao elemento chave..a água tb,o fogo só quando nos "queremos consumir dentro dele". É a necessidade do sentir,mas creio que primeiro que isso,é o saber que o desejamos.Desejar sentir,seja a terra,o fogo,o pó,a água,a pele.
Sentir que os dedos são a nossa verdadeira extensão é a chave,seja para te dar a mão,seja para sentir gotas de vinho,seja para agarrar a terra de joelhos no chão enquanto choramos pela perda de alguém. Não quero que seja uma imagem cliché,mas apenas tento ver o que significa,o que demonstra..tal como nos agarramos á almofada com força,tal como batemos com a mão na parede,no chão,no vidro.
Secalhar somos bem maiores que o nosso proprio corpo,por isso tentamos tocar sempre em algo,seja para explodir,seja para "sentir tudo de todas as maneiras."

2 comentários:

Unknown disse...

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.


sempre gostei da passagem das horas. é aquele pessoa com que mais me identifico.

a terra é onde criamos raízes. o fim e o principio de tudo. é a única coisa que podemos aspirar com certeza de concretização. 7 palmos de terra. o completar de um ciclo.

[às vezes percorro o trilho que desce até à quinta por baixo da minha casa. a mão da minha avó a agarrar-me o braço. cresci no campo e sou muito mais terra negra do que betão sujo. vejo as cidades sempre pela primeira vez, com o brilho no olhar caracteristico da novidade, mas onde me perco e esqueco é, sempre, no campo que sou. gosto daquelas manhãs de vindimas. um corte no dedo, arranhões nos braços, as mãos roxas e pegajosas, o cabelo desgrenhado, o cansaço recostado no meu corpo, dorido. o cheiro do fumo vindo da casa, ao fundo, onde sei que a minha tia prepara o almoço. batatas, salada e peixe assado. um balde de àgua onde todos lavamos das mãos a mesma terra, deixando a descoberto as linhas que nos guiam pela vida.]

:) devias mudar o teu blog para a plataforma do sapo. a comunidade é bem mais (re)activa. * * *

Filipa disse...

mister... ando sem tempo mas não me esqueci da sua dimensão pessoal! Tenho acompanhado o seu blog.

Vou aguardando noticias suas que não chegam! :))

Birra?!?!?!

Gosto de ouvir o barulho das ondas do mar de olhos fechados, de sentir o cheiro a maresia... de pés na areia!

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