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"Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
«Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo.» Mas o fim do Mundo,desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem.
Por isso, se as imagino , as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na china, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela, As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos."
Fernando Pessoa in Livro do Desassossego pag 398
1 comentário:
Graziee for the comment! Vou anotar as dicas. Mostrar-te-ei mais se bem que o portfolio nao e assim tao vasto... e sim, sinto a maquina "pequenina" demais as vezes. :)
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